O mundo mudou. As consequências do aquecimento global são cada vez mais visíveis. Severa falta de água e falta de energia, fraca qualidade do ar, tempestades de vento nível 5, incêndios florestais que mancham os céus de vermelho e fumaça, chuvas ácidas... Os desastres naturais são contínuos, as condições climáticas extremas e os recursos naturais chegaram ao limite, o que torna difícil viver. Há duas perguntas a fazer neste momento: consegues imaginar como seria viver num mundo assim e ter um bebé nestas circunstâncias será uma boa ideia?
Tão próximo quanto distante, o mundo fictício da série australiana The Commons conta uma história em muitos pontos semelhante à realidade, mas ainda assim notavelmente diferente. Tão real quanto díspar da realidade. Isto porque as alterações climáticas, na série, parecem ter atingido o nível máximo possivelmente imaginado por nós. São cenários exagerados e dramáticos para a realidade mas, infelizmente, não são assim tão distantes.
Da realidade para a ficção?
A série australiana em estreia no AXN mostra os impactos reais das alterações climáticas a longo prazo. Cientistas e especialistas já alertaram para as consequências mais evidentes em Portugal: longos períodos de seca, vagas de calor, tempestades mais fortes, zonas costeiras ou cidades submersas... Estes cenários climáticos extremos constituem perdas económicas, sobretudo em áreas como o turismo e a agricultura. E estamos a falar de um cenário real! Num cenário severo, considerando um aumento de 2 °C na temperatura média global em resultado das alterações climáticas, o impacto negativo na economia portuguesa corresponde a 6% da riqueza nacional (PIB).
Da ficção para a realidade?
Perda de colheitas, perda de trabalho, abandono das casas, aumento de doenças, pessoas mais vulneráveis à pobreza... São as consequências das perdas económicas de que falámos em cima. Na nova série do AXN acompanhamos ainda a “realidade” dos chamados refugiados do clima – são milhares de pessoas, desde agricultores que abandonam as terras impossíveis de cultivar a pessoas que saem das zonas de residência porque não podem ser abastecidas, a entrar simultaneamente nas grandes cidades, onde há maior probabilidade de sobreviver.
Não só os desastres naturais e as condições climáticas são extremas em The Commons como uma doença parasitária se espalhou como consequência de um clima cada vez mais quente e para a qual é preciso uma vacina segura e acessível urgentemente. Não parece assim tão descabido fazer o paralelismo para a realidade atual, certo? Descontrolo, pragas, esgotamento de recursos naturais... Soa cada vez mais real.
Paradoxo na “visão” de uma mulher
No meio disto tudo, a protagonista da série só quer viver uma vida normal. É neuropsicóloga, tem 38 anos e um desejo enorme de ser mãe. Este sonho é ameaçado por múltiplas tentativas sem sucesso de tratamentos in vitro. Num mundo tecnologicamente muito avançado, mas no qual se vive em total caos, faz sentido manter este lado da humanidade? Não podíamos deixar de falar de um movimento real que relaciona a escolha da parentalidade com as alterações climáticas – BirthStrikers –, algo até questionado por Alexandria Ocasio-Cortez, a mais jovem mulher de sempre a ser eleita para o Congresso norte-americano. Para onde caminha a sociedade e o que muda nos próximos anos?
The Commons é também um drama “incómodo” e emocionante sobre como as relações pessoais, as necessidades, as esperanças e os desejos têm lugar num mundo que já nada se parece ao anterior.